quinta-feira, 21 de maio de 2009

O Fim dos Tempos


O nosso conceito comum de tempo é distorcido. Buscamos o tempo onde ele está e lamentamos quando não o encontramos, sem nos apercebermos de que este tempo que procuramos não existe. Trata-se de um conceito, uma convenção, que criamos para organizar nossas ações, uma maneira concatenar a sequência de nossos atos com os ciclos da Natureza.

Para tanto criamos sistemas, métodos, aparelhos para medir a sucessão destes ciclos, apreendendo seus ritmos, suas repetições contínuas e acabamos por chamar a isto de tempo. A partir deste princípio criamos uma nova visão, mais abstrata, subentendida de tempo, como este sendo algo que estivesse sendo medido e não os ciclos Naturais.

Criamos então o conceito de linearidade do tempo e ao invés de entendermos que existam os ciclos Naturais e que estes nos demonstrem algo que pudessemos entender como tempo, passamos a fazer o contrário, partindo do pré-suposto da existência de uma grandeza proporcional ao Espaço, que manteria com este tal vínculo a ponto de que desta relação surgiriam os Ciclos Naturais.

Assim chegamos a extrapolar tais conceitos até alcançarmos a conclusão da existência de um padrão cíclico no próprio Tempo em si. Quando na verdade este é de natureza tão estática quanto o próprio Espaço. Corpos e Formas se movem, dentro de Ciclos Naturais através do Espaço e através do Tempo, mas Espaço e Tempo em si não possuem movimento.

Para os corpos somente existe o Espaço, sendo que o Tempo seria o meio no qual se encontra inserida nossa Consciência. A comparação que estabelecemos entre a nossa condição consciencial de Tempo e a condição Espacial dos Corpos é que nos dá a noção de movimento cíclico a que atribuimos como sendo a ação do Tempo.

Tendo em nós mesmos (Consciência) o ponto de referência para uma suposta linearidade, sendo esta algo absolutamente relativa às Formas e aos Corpos, e com isso nos levando a considerar a possibilidade da Finitude do Tempo.
 
 
A nossa própria percepção pode nos demonstrar uma realidade diferente na relação entre Tempo e Espaço. Se considerarmos que nossos sentidos se encontram na condição de uma projeção de nossa Consciência através do Tempo.
 
O texto que você lê é uma emissão de luz de um monitor, ou ainda o reflexo desta em uma superfície de folha impressa, sendo que quando tal texto chega aos seus Olhos passaram milésimos de segundo, que estabelecem uma "distância" temporal entre sua Conciência o aquilo com o que esta toma contato.
 
O que foi escrito aqui já foi se tornando passado a medida em que fui digitando. Assim também ocorre com o que é dito, sendo que por mais curto que seja o intervalo entre a emissão e a recepção de um som, este ainda fará com que haja uma antecedência do que é dito com relação ao que é ouvido.
 
Assim temos uma relação diferenciada entre Tempo e Espaço quando colocamos em questão o próprio indivíduo, pois com relação à Consciência, tudo aquilo que os Sentidos são capazes de apreender é passado. Não temos sentidos capazes de captar o exato momento presente.
 
Pois mesmo o Tato ou Paladar terão seus sinais captados pelos órgãos e transmitidos para o Cérebro e só a partir deste a informação chegará à Consciência do Indivíduo. O momento Presente então se mostra como algo absolutamente pessoal, pois ele só é vivido pela própria Consciência, pois quando algo que toque nossa consciência vier a ser expressado já será Passado, e quando algo do mundo que nos rodeia vier a tocar nossa Consciência isto já será Passado.
 
Então veremos que o momento Presente não é um ponto de uma linha que exista por si, no qual pudessemos estar ou não. Vemos então que o momento Presente é uma qualidade do próprio Ser, da própria Consciência, do qual esta jamais estará fora.
 
Temos então a Consciência como um ponto de referência Central, tendo à sua volta uma realidade Espacial toda ela sendo em Tempo proporcional ao Passado. Ou seja, o Ser é o Presente e tudo o que o rodeia é Passado.
 
Temos nisto uma referência da noção de tempo segundo o pensamento dos Antigos Incas. Que comparavam o tempo à situação de um homem que estivesse de pé em meio a um rio, voltado para sua Foz, tendo a Nascente atrás de si, sendo que aquilo que a correnteza do rio arrasta se afasta do homem em direção à Foz sendo este o passado e tudo que ele pode ver, estando aquilo que vem da Nascente o Futuro, que está às suas costas, não lhe sendo visível.


Podemos então considerar tal modelo em escala tridimensional, tendo ao redor do Indivíduo o seu Passado a continuamente se afastar dele, estando o Futuro por de trás do Indivíduo em uma condição impossível na realidade Tridimensional.
 
Vemos aqui que há uma relação de identificação muito sólida entre o momento Presente e a Consciência, ou seja, quando nos entendemos existindo, consideramos Ser, Existir, se questionarmos onde a resposta só poderia ser Aqui, e se questionarmos quando a resposta só poderá ser Agora.

Mas se tal constatação for expressada, até que esta chegue à outra Consciência, ou que esta seja captada por nossos sentidos, esta já será Passado, pois o momento acompanha o Indivíduo, assim tudo o que nos rodeia é composto por Passado, sendo este passível de ser percebido, modificado, ou até mesmo previsto, quando constatamos a interação entre os indivíduos (Consciências) e as Formas e Corpos que compõem o Universo ao nosso redor.

Percebemos que o Futuro como realidade ainda não manifestada seria naturalmente imperceptível, não seria possível que se fizesse qualquer tipo de Previsão e a razão pela qual se torna possível fazer previsões quer sejam através de Oráculos, Astrologia ou quais outros meios, o motivo é simplesmente pelo fato de que tais elementos com os quais nossa Consciência poderá vir a tomar contato já existem, compõem o Passado.

Podemos então comparar com a seguinte situação: Temos um antigo Disco de Vinil, com uma agulha do Toca Discos captando as marcas de suas ranhuras, enquanto o Disco gira e Agulha permanece fixa, assim comparando teremos a Agulha como sendo o Ser (Presente), as linhas pelas quais a Agulha passa são parte do Passado (Disco).

Ou seja, o Tempo neste caso é proporcional ao Espaço, sendo que assim como temos um ponto no Espaço ao qual chamamos de Aqui, com o qual comparamos outros para estabelecermos o que é longe e o que é perto, assim também temos um ponto no Tempo chamado Agora, com o qual estabeleceremos os parâmetros para compreender e até mesmo prever a sequência de Fatos, quando e onde nos encontramos com tais ou quais situações, pessoas, momentos, lugares, ou seja, quando tais realidades deixarão a sua inerte condição de Passado para voltarem a tomar contato com uma realidade momentânea de Presente ao tocar nossas Consciências.

No exemplo do Disco, podemos imaginar novamente uma realidade Tridimensional, na qual o disco seria semelhante à um Tornado que arrasta consigo o Indivíduo que suspenso no Ar toma contato sucessivamente com objetos que estejam igualmente suspensos.

Neste caso o Tempo em si não existe se não for por uma comparação com a condição Espacial da Consciência e o modo como esta toma contato com o que a rodeia. Sendo assim não há nenhuma possibilidade de Finitude para o Tempo, nem mesmo para a sucessão de Fatos que possam tomar contato com o nosso momento Presente Pessoal (Consciência).

Poderiamos considerar o Fim dos Tempos como uma realidade que se refira ao Futuro, sendo este sempre hipotético, com o qual não costumamos tomar contato, ou se tomamos não somos capazes de registrar tal experiência. Isto ocorre pelo fato de que o se passa conosco passa a ser considerado como Passado, então não desenvolvemos uma capacidade análoga de ter memória de Eventos Futuros.

Ter contato com o Futuro seria correspondente a "Olhar para o outro lado", se temos nossas Atenções voltadas a tudo que nos rodeia, o "Outro lado" estaria em um "lugar" impossível a não ser que se considere uma realidade que transcenda as Três Dimensões (Largura, Altura e Profundidade).

Isso corresponderia à "Voltar-se para Dentro", o que é tão comentado em nosso meio, "Conhecer a si mesmo", ou seja, temos bem pouco contato com a realidade Presente, quanto mais com a Futura, mas não temos como chegar ao Futuro senão Através do Presente.

Assim reconhecemos um novo sentido à afirmação:
"Ninguém vêm ao Pai senão por mim".

Se voltarmos à visão dos Antigos Incas sobre o Tempo , veremos que aqui há uma referência ao que chamamos de Processo Iniciático, a busca pela "Fonte", pela origem, que paradoxalmente não encontraremos no Passado e sim no Futuro. Tendo a frase bíblica sendo dita por alguém que buscava se auto-intitular "EU", ou "EU SOU", temos aí uma referência ao momento Presente, vivido exclusivamente pela Consciência Individual.

Sendo assim as referências ao "Fim dos Tempos" feitas nos textos do Apocalipse tratam do contato com esta realidade Futura, sendo uma experiência puramente Consciencial, na qual o Indivíduo se abstém do contato com a realidade que o rodeia para tomar contato com o que já foi chamado de "Mundo Interno".

Uma vez que Tempo é uma realidade puramente pessoal, o que é tido como seu "Fim" não será de modo algum um evento coletivo e em um ponto de uma sequência de Fatos a qual muitos acompanhem.

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