domingo, 22 de dezembro de 2013

O Caminho da Mão Direita


A partir do momento em que se pôde observar a existência de formas distintas de busca espiritual, no qual se via uma estruturada, formalizada e estabelecida em uma sociedade e época e outra forma menos usual, por vezes contestadora e subversiva, se passou a definir a forma mais tradicional e universalmente aceita como sendo a "correta" e a outra como sendo "estranha". Sendo assim a Direita passou a existir por sua relatividade com a Esquerda.
 
Certas características ficaram mais claras ao se definir com termos mais específicos cada Caminho, de modo que o Caminho da Mão Direita passou a ser visto como conservador, reacionário por ser acima de tudo essencialmente "Dogmático".
 
O termo Dogma, mesmo que de origem anterior, teve seu significado mais definido pelo uso feito deste termo por parte da Igreja Católica Apostólica Romana. Em que definiu como sendo assuntos inquestionáveis aqueles que por convenção, votação e eleição da maioria se tivesse chegado a um consenso. Ou seja, a partir do momento em que a maioria decidiu a cerca de determinado tema este não mais seria debatido e passaria a constituir um Dogma.
 
Assim temos que mesmo que não sob a influência da Igreja Católica, o Caminho da Mão Direita buscará como meta e ideal um conceito inatacável, inquestionável de "Lei Divina", conceitos dogmáticos, rígidos daquilo que é considerado correto, bem como do que não seja aceitável.
 
Nesse sentido o simbolismo das mãos do "Bode de Mendes" como representando os ideais a serem buscados por cada Caminho se mostra bastante acertado no que se refere a essa postura encontrada nesse Caminho, em que se busca trilhar sob conceitos de Justiça e Lei, simbolizados pela Sephira Geburah.
 
É natural ao ser humano se considerar como estando do lado correto, do lado vencedor, do lado "do bem", mas no Caminho do Mão Direita isto se mostra especialmente importante, pois por influência e associação ao Caminho Místico uma das metas ideais passa a ser a busca pela "Pureza".
 
Ao tratar da questão do que representaria um "vício" para o Caminho da Mão Direita eu vim a me referir no texto "Os Dois Caminhos" à "busca pelo Prazer". É preciso ser cuidadoso ao interpretar esta expressão pois este é um conceito bastante relativo que exige que se defina a que tipo de prazer a Direita busca.
No caso essa busca se mostra impelida pela tendência natural simbolizada pela Sephira Hod de buscarmos nos unir aos que nos são iguais e este é o prazer almejado, pois o que geralmente se vê enfatizado e como ponto comum neste Caminho são conceitos de "Família Espiritual", "Fraternidade", "Irmandade", "Lar", "Casa", "Morada" etc.
 
Todos estes valores análogos aos conceitos de "União", "Comunhão", sendo estes valores observados simbolicamente pela água, em que vemos no Gênesis a passagem que menciona que após ter sido criada a água, esta ter sido dividida entre "águas de cima" e "águas de baixo", as de baixo foram "colocadas todas em um só lugar criando-se assim o elemento árido". Assim vemos essa união das águas, tal como se vê na Natureza todas as águas convergindo para o Mar, assim representando o Caminho da Mão Direita, no qual são cultivados valores relativos a essa união, fusão e dissolução dos indivíduos em uma coletividade.
 

Deste modo também acaba por se manifestar um novo desdobramento do vício da Direita pelo prazer, que é a comodidade, o conforto, o amparo e apoio da coletividade que acaba por enfraquecer a individualidade e inebriar a Vontade, levando a que os valores representados pela Sephira Geburah não sejam vividos com plenitude, pois não há uma busca pela superação, não há o impulso para a conquista, mas sim apenas uma disposição a receber "Dádivas Divinas", se postando como beneficiários da Benevolência simbolizada pela Sephira Chesed.

Como disse quando me referi aos Dois Caminhos, as qualidades são mais mérito do indivíduo em sua busca do que do Caminho no qual se encontra. Ou seja, mesmo que este impulso natural que leva o indivíduo a ter uma orientação mais voltada ao Caminho da Mão Direita acabe o levando a se acomodar, ainda assim caberá a ele superar essa tendência para alcançar o ideal almejado.

A busca por colocar-se estrita e dogmaticamente sob os rigores da "Lei Divina" leva a que a Direita busque sempre pela Ordem e frequentemente assumem posturas de autoridade perante aqueles que não estejam plenamente inseridos dentro do conjunto de regras criadas por cada grupo. Esse conjunto de regras vem por criar e fortalecer a identificação entre os participantes atribuindo assim uma identidade ao grupo.
 
Tal processo é muito mais perceptível a níveis supra-físicos nos quais a sociedade não se encontre tão estruturada como a que temos hoje a nível físico. Assim é comum que se encontre as entidades da Direita estabelecidas em "Cidades", "Cidadelas" ou "Colônias" a níveis supra-físicos nas quais permanecem unidos entre si mas isolados dos que lhes sejam diferentes, formando "ilhas" de Ordem na qual usufruam de alguns dos prazeres da civilização.

Embora haja grande influência do Caminho Místico na Direita, ainda assim se vê diferenças entre o que encontramos nas culturas Ocidental e Oriental. Sendo que podemos observar que a Direita no Oriente naturalmente dará ênfase ao desenvolvimento prático em detrimento do teórico. E isso também é observado no Ocidente. Mas isso essencialmente no que se refere ao Caminho Místico, pois naquilo que concerne ao Caminho Iniciático, especialmente no Ocidente o que se vai observar é que a Direita irá dar ênfase ao desenvolvimento teórico, muitas vezes até mesmo evitando a prática, ou a reduzindo a atividades ritualísticas.

Existem grandes ressalvas por parte da Direita de modo geral quanto à Prática especialmente de Magia, de modo que só costuma ser considerada aceitável a Magia Branca. Mas isso em termos ideológicos, pois neste caso a condição de Mago, como naturalmente alguém distinto dos demais, entraria em conflito com os preceitos da Direita mais voltados à comunhão de iguais.

As práticas ritualísticas e sacerdotais encontradas em certos ramos da Direita levam a que se acabe por exercer a prática do que alguns classificam como Magia Cinzenta, por ser uma prática que não possua todos os requisitos que seriam necessários para a Magia Branca.


As práticas tanto ritualísticas quanto vivenciais, quer sejam de Escolas Iniciáticas ou Místicas, ou mesmo de Instituições Religiosas no Caminho da Mão Direita estarão tendo como objetivo proporcionar bem-estar. Existem os conceitos de caridade e altruísmo como ideais universais, embora na prática costumem ficar restritos às suas próprias comunidades e grupos.

Os preceitos da Magia Branca de levar do material para o espiritual, são vistos com simpatia pela Direita, por colocarem seus ideais intimamente ligados à figura da Divindade, como a fonte Benevolente da qual usufruem. Deste modo há uma tendência a que suas práticas muitas vezes acabem sendo mais voltadas a alcançar um certo nível de sutilização, tornando-se menos densos, menos materiais, para assim usufruir melhor das Benesses Divinas.

Existe a busca por realidades Paradisíacas nas quais se possa estar em comunhão com a Divindade e com todos que lhes sejam iguais, usufruindo assim de prazeres celestiais sem fim. Mas para isso se faz necessário driblar a auto-crítica, pois inevitavelmente acabariam se vendo como egoístas e esta costuma ser uma qualidade considerada condenável, pois vai contra o conceito de igualdade afetando assim a união dos iguais.

Com isso se observa o comportamento de desprendimento quanto aos próprios ideais e metas, em que se vê muitos assumindo posturas altruístas de quem abre mão de realidades paradisíacas em prol de seu semelhante, sem se aperceber com isto o quanto esta atitude o coloca numa posição de superioridade levando a grandes demonstrações de vaidade.

Embora possa se reconhecer certas tendências ao comodismo por parte da Direita, isto dá a falsa idéia de passividade, quando na verdade a imagem altruísta e benevolente oculta uma forma sutil mas não menos contundente de violência. Pois ao mesmo tempo que buscam avidamente a comunhão dos iguais, também ocorre a repulsa pelos diferentes, havendo assim até mesmo conflitos históricos e a ocorrência de guerras motivadas por grupos religiosos ainda que ambos tenham uma orientação mais voltada à Direita.

A intolerância para com os diferentes leva a duas posturas, sendo uma a repulsa e o isolamento puro e simples, enquanto a outra seria a busca pela conversão, a conquista de mais um igual, desconsiderando a individualidade na tentativa de torná-lo igual para assim ser aceito.

É importante que se diga que em um sistema de classificação tão abrangente como este encontremos indivíduos nos mais diversos níveis de desenvolvimento espiritual tanto na Direita quanto na Esquerda. Desde aqueles que se deixam conduzir por esse impulso natural quanto aqueles que reconhecem sua existência e o superam.

É frequente a associação da Direita com o Simbolismo da Luz, tendo-se essa como expressão da Divindade, de modo que estes por "cumprirem" as "Leis Divinas" se fazem "merecedores" de Suas Dádivas, sendo assim "Iluminados". Sem se darem conta de que estão se contentando em receber a Luz sem serem capazes de a produzirem. Ou ainda como pessoas que se contentam em olhar o belo dia pela janela, sem se aventurarem a sair pela porta por temerem passar pelo corredor escuro até ela.

 
São considerados como de Direita as instituições religiosas maiores e mais bem estabelecidas como a própria Igreja Católica Romana, Copta, Ortodoxa, Igrejas Protestantes, Pentecostais entre outras; Centros Espíritas Kardecistas, alguns Umbandistas e alguns outros cultos de origem Africana mais tradicionalistas; os ramos mais "populares" de Islamismo, Judaísmo, Hinduismo, Xintoísmo e Budismo e diversas outras instituições religiosas mais tradicionais e socialmente aceitas em cada cultura. Igualmente encontraremos certas instituições de estudos ocultistas como por exemplo a Sociedade Teosófica, alguns ramos de Rosacrucianismo, Maçonaria etc. Além de filosofias e tendências sociais tais como o "Movimento New Age".
 
Curiosamente não apenas instituições religiosas ou espiritualistas se encaixam nesse contexto como também certas linhas de pensamento, ou mais especificamente certas condutas na defesa de idealismo como no caso do Ateísmo em que as a figura da Divindade é substituída pelo gênio humano.
 
É importante enfatizar que a despeito do teor crítico do texto, a ênfase no que classifiquei de "vícios" da Direita não representa uma crítica às instituições em si, nem mesmo a seus membros, pois em todas encontramos sempre aqueles que superam essas limitações naturais criadas por nossos impulsos inconscientes.
 

2 comentários:

  1. Muito bom o texto..realmente gostei muito. Vc teria algumas indicaçoes de leituras para iniciantes a magia branca e estudo da mao direita...bem como simbolos, protecoes e selos. Obrigada!!!!

    ResponderExcluir

Não havendo requisição em contrário os seus comentários poderão ser publicados sem consulta prévia.